Dirigindo em uma estrada numa linha reta, a paisagem que passa a minha volta são de árvores altas, das quais só vejo troncos, é dia, quase entardecer, entre os troncos percebo as luzes, tem alguém no banco ao meu lado, não sei quem é. Apenas sei que está lá, conversando, não escuto sua voz apenas percebo sua presença, vejo os gestos dos braços em contraste com as paisagens e as árvores que passa por nós na floresta e a rua, que parece infindável.
Não sei onde estou, nem quem sou, tudo que sei é uma pálida noção de ser alguém dirigindo e a de que não estou sozinho. Esqueço a linha reta. Estou em alta velocidade e deixo meu olhar vagar pela floresta, luzes, sombras, a rua sem fim. Sei que não estou sozinho.E de repente também percebo que lá fora se escondem mais que árvores e animais silvestres. Minha atenção se divide entre aquilo que sei estar ao meu lado e aquilo que agora se mostrou na floresta, um vulto, possui forma é humana, ele corre em direção ao carro, sua rapidez faz contraste entre as luzes, daquele quase anoitecer, que crepitam entre os galhos, como se o sol fosse apenas uma pequena lareira ao longe e a rua, a mesma rua que não parece acabar, as sombras naturais do entardecer se confundem com sua própria sombra, aterrorizante, se esgueirando de um lado a outro da floresta tentando alcançar o carro. Sinto medo. A estrada que era reta se faz curva, viro bruscamente mas não é a estrada que vejo, a imagem da sombra que se esgueira na floresta e mais perturbadora que o eminente acidente, que naquele momento se fez trivial. Vejo poeira, cascalhos e pedras batendo contra o vidro. Estou vivo! Não vejo mais a floresta, tudo que sobrou foi uma clareira de cascalhos. Porém os flashes daquilo que corria, permanece na minha mente. E então acordo em minha cama, no meu quarto onde a sombra deu lugar a escuridão total, porém menos assustadora. É madrugada, o dia ainda não raiou. Tudo não passou de um sonho ou um pesadelo, como queiram definir.